segunda-feira, 4 de junho de 2012

Não ilumina, exatamente, mas como o fósforo, permite enxergar o tamanho da escuridão que existe

"Gosto de livros que não sejam só espirituosos e hábeis. Prefiro alguma coisa que deixe uma ressonância, uma atmosfera. É o que acontece comigo quando leio Shakespeare e Proust. Há certas iluminações e vislumbres de coisas que proporcionam uma forma completamente diferente de pensar. Estou usando palavras que tem a ver com luz porque, às vezes, e acredito que foi Faulkner quem disse isso, acender um fósforo no meio da noite num descampado não permite ver nada mais claramente, apenas ver com clareza toda a escuridão em volta. A literatura faz isso, mais do que qualquer coisa. Não ilumina, exatamente, mas como o fósforo, permite enxergar o tamanho da escuridão que existe."

(As entrevistas da Paris Review Volume 1. Javier Marías. Ed. Companhia das Letras, p. 449)

2 comentários:

  1. Sim a literatura faz isso. Melhor, alguns escritores fazem isso, génios... infelizmente por cada livro de ouro há toneladas de livros que são apenas papel sujo de tinta, árvores desperdiçadas.

    Mas na minha opinião, essa imagem do fósforo se aplicaria melhor à ciência: ela vai fazendo o mapa, o pequeno mapa das nossas poucas certezas sobre a realidade: a Terra gira à volta do sol e não o contrário (Copérnico), a teoria da evolução (Darwin), a psicanálise e o papel do inconsciente (Freud), Newton e os seus "Philosophiae Naturalis Principia Mathematica", Einstein e a teoria da relatividade, etc.

    Bem, talvez pudessemos sintetizar dizendo que a literatura nos faz voar em imaginação e a ciência nos fez voar de avião. :)
    E para além da ciência temos a reflexão filosófica, claro, para procurar um Sentido para a Vida.

    Do lado do nosso Mal, escurecendo tudo com os seus dogmas de adão e eva, céu e inferno, ressureição dos mortos (!), com as suas verdades(mentiras) irrefutáveis e suas certezas loucas, o seu "Ah nós já sabemos toda a verdade, o amigo imaginário deus disse-nos", pois do lado do Mal anti-conhecimento, tentando apagar o fósforo, estão as religiões.

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  2. A literatura que abre os caminhos do pensar.

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