sábado, 19 de dezembro de 2009

Conto - meu - paz e desespero



Por Vanessa Souza




Para ler ao som de Hay Amores, Shakira




Um jardim de margaridas

- Não acredito como vivi todo esse tempo longe de você.
- Mas viveu. Vivemos – ela respondeu, suspirando longamente.
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(Re)encontraram-se ao acaso. Eles, que não acreditavam em acaso. Nem em Deus. No aeroporto. Num dia qualquer, da semana. Ele ia, ela voltava. Eles nunca tiveram o mesmo tempo. Quando ela avançava, ele recuava. E vice-versa.
Encontraram-se num aeroporto, 13 anos depois da última vez. Número emblemático, Luísa pensou. Ela, que adorava filmes de terror. E esse fantasma aparece em sua frente.
Esbarraram-se no aeroporto. Em frente ao McDonald´s. Ela, apressada, como sempre. O tempo não os mudara tanto fisicamente. O (re)conhecimento foi rápido. Rápido Stanley também era, para a maior parte das coisas.
- Luísa– num rápido gesto espontâneo abraçou-a forte.
Ela não esperava. Óculos, bolsa, livro, tudo foi ao chão.
- Stan ... Quanto tempo! – abraçou-o com mais delicadeza. – Preciso ir ao banheiro, um minuto.
Ele ajudou-a a juntar as coisas no chão.
Luísa entra no banheiro tremendo. Fantasiou tanto aquele encontro, de tantos jeitos, com tantas roupas, tantas frases inteligentes e lá estava ela, encostada na porta do banheiro do aeroporto, sentindo-se emparedada, com uma taquicardia tremenda. Respirou fundo, olhou-se no espelho. Estava bem mais bonita do que da última vez em que o vira. Isso deu coragem o bastante para sair do pequeno cubículo e encará-lo.
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Ele a esperava lá fora. Ela sorriu. Ele sorriu. Abraçaram-se de novo. O abraço mais apertado do mundo, o melhor de todos. Luísa sentiu-se atirada violentamente ao passado. Passado sempre presente. Ela nunca havia exorcizado Stan de todo. Parecia que a recíproca era verdadeira. Ele estava aturdido com a aparição.
Decidiram (re)marcar os vôos para mais tarde, e foram caminhar na praia. A vida poderia esperar umas horas.
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Tomaram sorvete, andaram na areia, lembraram de coisas engraçadas, sérias e tristes.
- Fui eu quem te deu o livro que estás lendo – disse ele, referindo-se ao livro que ela tinha em mãos no aeroporto.
- Não foi.
- Eu te dei esse livro – Josh insistiu.
- Não deu, Stan. Ia me dar. Por algum motivo, para me punir talvez, não me destes. Eu comprei e o perdi. Precisava dele na semana passada, e achei um exemplar no sebo – explicou.
- Tinha certeza que havia te dado.
- Memória inventada – respondeu ela.
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Falaram de livros, filmes, do que fizeram nos últimos anos. Coisas demasiado sérias e bobagens tremendas. Surpreenderam-se por suas vidas terem se aproximado tantas vezes, e não terem se encontrado antes. Era preciso uma colisão, uma explosão. E alí, sentados olhando para o mar, sentiram-se em paz.
Deixaram a praia horas depois, com grande relutância. Havia muito a ser dito. A palavra certa sempre foge, escapa. Como eram aqueles dois. A angústia do nunca-mais-se olharem-nos-olhos-outra-vez, foi violenta. Com um leve desespero, cada um foi para seu lado. Havia um jardim de margaridas ali. Paz e desespero. A história não tem fim. Doces fantasmas sempre podem (re)aparecer. Em uma sexta-feira treze. Ou a cada treze anos.

16 comentários:

  1. Caio e Clarice! Ô beleza de almas :)

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  2. Adooorei seu blog. Vou seguir e visitar sempre. Bjs.

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  3. Nossa, escrevi um conto ontem e nele minha personagem também se clama Clarisse. A diferença é que a sua Clarice é com C.

    Esses encontros são tão aguardados e no momento que acontecem a gente não sabe o que fazer, o que falar. Ficamos perdidas, nervosas.

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  4. Nossa.. eu gostei muito desse seu conto.
    Esses reencontros com certeza deixam o coração batendo mais forte.
    Lindo lindo!

    =)

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  5. li ao som de shakira como vc propôs e adorei!!!
    perfeito!!
    seu blog é lindo, lindo, lindo!!
    bju

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  6. BOA NOITE!!! MARAVILHOSO BLOG, SUCESSO E MUITA PAZ...BJS

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  7. Eu espero mesmo que tenha um re-encontro, pode ser daqui a 13 anos até, mas ia achar mais legal se fosse em uma semana qualquer, não muito distante, não me importo nem que seja em um dia 13. =]
    E é bom que ele não pense que o livro que esteja lendo, o cd que esteja ouvindo, ou suéter que esteja usando tenha sido dado por ele.
    Enfim...
    Talvez não precise nem ser um reencontro. Se eu encontrar alguém... Vai ser bom também.

    Um beijo.

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  8. Bom dia menina!!
    Li seu conto adorei, fiquei imaginando cada cena
    cada expressão.. o nervosismo os batimentos cardíacos acelerados rsrsr..mas fiquei na perspectiva de um novo encontro .. conta aí? rsrsrs.. Parabéns Adoro seu blog .. gosto de tudo.. boa semana pra vc
    FELICIDADES E SUCESSO bjusss

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  9. às vezes mesmo sendo doce fantasma, não deixa de assustar.Lindo conto.pena que a realidade geralmente extrapola a poesia e cai em um lugar chamado desencontro.

    mas esse texto não deixa de ser liiindo :*

    Flores.

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  10. Vanessa,

    Lindo o seu Blog!!Parabéns!!!
    Depois volto para ler melhor suas postagens!

    Beijos e ótimo início de semana de festas!

    Reggina Moon

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  11. Lindo texto,senti como se contasse um pouco de mim nele,encontros e desencontros...gostei muito.
    =]

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  12. Oi VAnessa,

    Passei para deixar meus votos de Feliz Natal e um ótimo Ano Novo... sim, eu li o post sobre "Não gosto de Natal", mas acredito que bons sentimentos e votos de paz, amor e prosperidade são bem-vindos sempre, independente das datas. Então ficam os meus votos aqui, com muito carinho para você!

    Abraço,

    Cacau
    Mosaicos do Sul

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  13. Bonsoir! Comment ça va?
    puxa, deu trabalho pra te encontrar, hein guria! Te vi no meu blogue, depois fui npo Amálgama e de lá, sim te achei. Gostei do visual deste teu cantinho, bem acolhedor, e os poucos textos que já deu pra ler me dizem que escreves muito bem, acho que é das escritoras que escrevem logo o que vem à cabeça, pois sinto um ar natural, uma naturalidade gostosa, aqui, um pulo da imaginação.
    Gostei muito e estou a seguir-te. Je t'embrasse et j'attends ton rendez-vous chez moi.
    PS.: Não posso deixar de dizer que o geito da personagem do texto lembra um pouco a mim, nuns anos atrás... Gostei mesmo. Mes félicitations.

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  14. O certo é com J, eu escrevi jeito de maneira erradíssima!
    Quis dizer que tenho o jeito da personagem sim, a Clarice. Por que? Porque ela gosta de livros, porque, embora tenha abraçado o Caio, o fez assustada um pouco, e porque decidiu primeiro se arrumar no toilette, coisa que eu faço sempre. Por exemplo, nunca apareço no MSN sem antes arrumar os cabelos, trocar de roupa... até perfume eu passo! Pra mim, ela pareceu um tantinho tímida, não muito. Exatamente como eu sou.
    Bonne nuit!

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  15. Impactante! Que (des)encontro... Às vezes deixar partir é a única forma de retermos algo por mais tempo, concorda? Ainda que sejam reminiscências.

    Beijo grande.

    Cecília

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